17 de maio de 2011

HOMENAGEM À ENCICLOPÉDIA!

Em homenagem ao aniversário de 86 anos de vida de Nilton Santos, ocorrido ontem, e que por isso mesmo é considerado o dia do BOTAFOGO, reposto (não sei se esse termo existe) uma resenha da autobiografia do monstro sagrado, que li em dezembro do ano passado.

RESENHA
“Minha Bola, Minha Vida” – Nilton Santos- ED. GRYPHUS- 1999
Terminei de ler recentemente a auto-biografia de Nilton Santos “Minha Bola, Minha Vida”.
Afora as maravilhosas passagens em que tornou-se bi-campeão mundial com a seleção brasileira, a vida da “Enciclopédia do Futebol” transcorreu sem as grandes polêmicas e sobressaltos da maioria das grandes celebridades, inclusive futebolísticas, vide Garrincha, Heleno de Freitas e tantas outras personagens controversas.
Mas é a simplicidade que faz com que a leitura flua com leveza e frua de nossa atenção como poucos textos dentre as normalmente enfadonhas biografias.
Nilton fala de sua infância pobre, como pobre éramos quase todos, felizes, sem grandes provações e sem o consumismo das crianças de hoje. A bola de meia, era inteiramente amiga de Nilton, de Cândido e Binininho, fundadores do Fumo, time de várzea da Praia das Flexeiras, na Ilha do Governador no qual debutou Nilton Santos.
Fala de suas amizades com jornalistas como Sandro Moreira, Armando Nogueira, de “personalidades” como Neném Prancha, eterno “filósofo” alvinegro.
O livro conta das amizades com outros jogadores, principalmente Garrincha, seu compadre, com quem conviveu até pós-enterro. Transcreve diálogos e tiradas do craque das pernas tortas como quando Garrincha diz que jogar na seleção é igual a jogar no Botafogo, tal a quantidade de jogadores alvi-negros envergando a amarelinha.
“Meus alunos da “Escolinha de Futebol Nilton Santos”, em Brasília, quando falo e passo filmes do Mané, eles não acreditam, acham que é montagem.
Nilton Santos idolatra o dirigente Carlito Rocha, verdadeiro apaixonado pelo Botafogo, que foi à falência por dar dinheiro seu ao clube, que tratava seus jogadores como filhos e vivia a vida do clube como nenhum outro, como nenhum outro também em suas supertições.
A Enciclopédia relata os acontecimentos das copas em que participou, de 50 no Maracanazo, isenta Barbosa, goleiro execrado por ter tomado o segundo gol uruguaio. Para Nilton Santos, o verdadeiro responsável pelo gol de Varella teria sido Juvenal, beque de área que deveria cobrir Bigode, lateral driblado quase no meio campo.
Nessa Copa do Mundo o já craque Nilton Santos não jogou um só jogo, já sabia, Flávio Costa, o todo poderoso técnico da seleção à época gostava do “zagueiro zagueiro”, disse inclusive que a chuteira do maior lateral esquerdo do mundo de todos os tempos tinha o “bico muito mole”.
Dois fatos aparecem com relevo nos relatos sobre a Copa de 54. O primeiro a quantidade de compras efetuada pela delegação, que causou receio inclusive sobre as possibilidades de prejuízo ao vôo de volta ao Brasil. O segundo fato diz respeito ao total desconhecimento do regulamento por parte da delegação brasileira. No jogo contra a Iuguslávia um empate bastava a ambos, enquanto o adversário passava a bola fazendo o tempo passar no empate em 1 a 1, o Brasil corria desembestadamente atrás do gol da vitória, para desespero dos europeus, que gesticulavam tentando mostrar que aquele resultado beneficiava aos dois times.
Após o empate, os brasileiros cabisbaixos só ficaram sabendo da classificação à próxima fase tarde da noite no hotel.
Em 58 finalmente o título, Nilton Santos consagrado como uma unanimidade, Pelé aparecendo para o mundo e Garrincha assombrando a todos.
Em 62 a consagração e a confirmação de uma geração de ouro do futebol mundial com o Botafogo à cabeceira. Pode-se dizer que o Botafogo ganhou aquela Copa sozinho, pois Garrincha e Amarildo jogaram por eles e por Pelé, que esperava-se ser a grande sensação daquela Copa.
Nilton Santos discorre sobre “treinadores e treineiros”, entre os primeiros cita Zezé Moreira, Vicente Feola, Aymoré Moreira, João Saldanha e Paulo Amaral.
Como treineiro cita Gentil Cardoso, “malandro [...] só gostava dos jogadores que tinham mais nome dentro dos clubes, que eram da seleção. [...] humilhava muito os reservas.”
Nesse mesmo capítulo fala de árbitros e de sua polêmica com Armando Marques.
Num jogo entre Botafogo e Corinthians, no Pacaembu, o dito árbitro marcou um pênalti inexistente, Nilton foi reclamar e “Ele, todo nervosinho, veio falar comigo e colocou o dedo na minha cara. [...] dei-lhe uma porrada.” Nilton Santos justifica: “Já pensaram, eu chegando em casa, ele [meu filho] me cobrando uma atitude...”
Nilton fala ainda dos maiores jogadores que viu jogar, de sua carreira como treinador de futebol e sua experiência com escolinhas de futebol pelo país afora, como no Rio, em Brasília e Campo Grande-MS.
Essa experiência é para a velha Enciclopédia do Futebol uma das mais gratificantes de sua vida.
O livro se encerra com um registro de todos os jogos de Nilton Santos e com fotos de enorme valor histórico do maior lateral esquerdo de todos os tempos, que certa feita arrancou o seguinte comentário de Nestor Rossi, técnico do River Plate, após um primeiro tempo em que Garrincha massacrara Vairo, lateral do alvi-rubro e da seleção portenhos: “[Vairo] Você está vendo aquele jogador ali? Mostrava em direção a mim, estava de uniforme limpo, meias em cima, tranqüilo caminhando para o vestiário – Pois é, ele é o Nilton Santos, é lateral como você. Vá lá perto, passe a mão na perna dele para ver se você melhora. Ali naquelas pernas está o futebol de todos os beques do mundo.”
Espero que todos que tenham lido esta resumo se apeteçam a ler este livro, mais uma página brilhante de nosso futebol e do Glorioso Botafogo!