19 de abril de 2011

Dia de cão no Rocha Faria!

Sofri um acidente hoje pela manhã.
Ao descer da van que me levava até o trevo de Santa Cruz para pegar o ônibus para Conceição de Jacareí, pisei em falso e torci o tornozelo. Meu pé ficou deformado, não conseguia mudar a posição do pé que estava aduzido ao extremo.
Uma passageira desceu da van e ficou me fazendo companhia até a chegada dos bombeiros da SAMU.
Fui levado ao Rocha Faria, fui muito bem atendido, o médico que me atendeu fez a redução da luxação, fiz uma radiografia que constatou que não havia fratura.
O que me chamou a atenção foi a quantidade de gente em camas improvisadas pelos corredores do Hospital. Parecia que estávamos num daqueles filmes de guerra onde existem muitos feridos e os leitos são insuficientes para atender a todos dignamente.
Como pode um governo gastar 1,2 bilhões de reais na reforma do Maracanã, outros tantos bilhões para preparar alojamentos, instalações esportivas para as Olimpíadas e manter um hospital público que atende toda a população da grande Campo Grande e grande Santa Cruz naquela precária condição.
Fui atendido bem rápido pois estava com o pessoal da SAMU, que me acompanhou em todos os procedimentos.
Pacientes se aglomeravam por todos os lados para serem atendidos, dezenas de doentes pelos corredores.
Quando saí do Hospital percebi que logo ali adiante, perto da Sendas, se erguera mais um suntuoso hospital particular.
No Rocha Faria, muitos funcionários contratados, serviços terceirizados, falta de um tipo de atadura com gesso para fazer a minha imobilização.
Tudo isso parece planejado. A cada dia mais hospitais particulares, mais gente pulando para os planos de saúde, enquanto a população mais pobre sofre nas filas e corredores.

17 de abril de 2011

DO CAOS, DE QUEM É A CULPA?! ou de como a educação pública municipal se tornou tão caótica!

No início dos anos 90, com as privatizações nos governos Itamar e FHC, introduziu-se no Brasil um conceito novo ao movimento popular e sindical, tratava-se do neoliberalismo.
Naquela época, apesar das privatizações de empresas como CSN e Usiminas entre outras, à população de um modo geral e à nossa categoria especificamente (aparentemente não estávamos no olho do furacão, como metalúrgicos e ferroviários, por exemplo) soava “forçação” de barra de uma esquerda ultra radicalizada a utilização de conceitos como neoliberalismo e globalização, principalmente quando com o fim do socialismo real, ideólogos do capitalismo preconizaram exaustivamente que a história teria chegado ao seu fim com o capitalismo eterno.
Passados quase 20 anos é muito mais palpável para nossa categoria, entendermos o conceito de uma nova roupagem com que se traveste a sociedade das mercadorias.
Ao mesmo tempo em que o estado brasileiro ia se desfazendo (a troco de banana ou de papéis podres) de grandes empresas que impulsionaram o capitalismo tupiniquim, ia também diminuindo a oferta de serviços públicos à população.
Hoje o que vemos é a face mais perversa desse modelo, mesmo a pouca verba aplicada nesses serviços, notadamente na educação, tem uma grande fatia destinada à iniciativa privada.
Nessa linha temos uma enxurrada de projetos na rede municipal do Rio de Janeiro (é possível que nem a própria secretária conheça todos) que tem por finalidade precípua o desvio de verbas públicas para a “privada”.
Se há alguns anos tínhamos o servente fazendo a limpeza dos pátios e salas, passamos a ter logo depois as “cooperativas”, que faliam vez por outra, deixando seus trabalhadores precários, com uma mão na frente e outra atrás, hoje a Comlurb toma para si essa tarefa.
Se as quase extintas merendeiras preparavam as refeições e educavam com noções de higiene e postura adequada durante as refeições os nossos alunos, hoje novamente a Comlurb se arvora ao papel daquelas funcionárias concursadas.
A prefeitura quando não privatiza, como nos dois exemplos acima, simplesmente extingue cargos, como o artífice, porteiro, agente de pessoal, orientador pedagógico, orientador educacional, coordenador de turno...
No final de 2010 a carência de pessoal era enorme. Já naquela época o abandono da carreira, seja por baixos salários, seja por péssimas condições de trabalho, seja pela falta de autonomia pedagógica (ou então por tudo isso junto) fazia com que o déficit de PI chegasse a quase 8500 professores, o de PII por volta dos 6000, carecia a rede de 3.800 merendeiras, 1600 agentes educadores, 5600 serventes 1600 agentes administrativos, 1300 agentes auxiliares de creche e no mínimo 2700 agentes de portaria.
Se do ponto de vista econômico (transferência de verba pública para a “privada”) sofremos um grande golpe do capital, do ponto de vista pedagógico a pancada não foi menos dolorosa. A imposição de “metodologias” criticadas e retrógradas (Alfa e Beto, Ginásio Carioca, etc.) e a premiação por metas são faces de uma mesma moeda que preconiza a meritocracia e o currículo “sub-mínimo” (que no caso do Rio de Janeiro se transforma em máximo).
Chagamos ao cúmulo da SME elaborar simulado à nefanda prova Brasil, institucionalizando o reinado da avaliação externa pasteurizada e pasteurizadora, como se possível fosse homogeinizar realidades tão distintas desse continente brasileiro.
A quem atingir índices pré-estabelecidos, 14º, 14 salário e meio, a quem não atingir, menos verbas e mais intervenção.
A preocupação com índices faz com que a prefeitura esqueça das pessoas e vislumbre só números, a menos que esses números sejam em favor da educação pública, como prova a condenação da prefeitura pela 1ª Vara da Infância a devolver 2,18 bilhões de reais a educação municipal. O desleixo para com os números se torna patente também quando se trata dos baixos salários pagos à categoria. Nos últimos 4 anos a participação dos salários dos servidores nas despesas da municipalidade caiu de 50 para 42%, se levarmos em consideração que sempre temos os menores reajustes do funcionalismo é fácil perceber quão defasados estão nossos salários. Os 21% que exigimos em nossa campanha salarial minimizam emergencialmente nossas perdas, mas é só compararmos nossos vencimentos com os de municípios menores e mais pobres para constatarmos que ainda precisamos de muita luta e organização para atingirmos um patamar salarial minimamente justo.
Não podemos esquecer que também precisamos implementar nosso Plano de Carreira Unificado, há muito aprovado pela Câmara e nunca respeitado pelos diversos governos.
Todo esse quadro faz com que os profissionais da educação da cidade do Rio de Janeiro adoeçam mais e em maior intensidade, Síndrome de Burnout, Síndrome do Pânico, alergias, tendinites, problemas vocais, problemas de coluna, são algumas das afecções típicas de nossa categoria. A escola pública da cidade do Rio de Janeiro adoece e também mata.
A violência tem levado ao desespero, profissionais, alunos e responsáveis. A morte dentro de sala de aula do aluno Wesley no ano passado, assaltos, depredações, violência física e psicológica sofrida por professores e funcionários tem para nós uma matriz geradora, o descaso da prefeitura em primeira instância, mas também dos governos estadual e federal.
A falta de pessoal, a falta de infra-estrutura, as salas super-lotadas, os baixos salários, são alguns dos motivos que fragilizaram de tal forma essa rede que a violência instalada deverá ser enfrentada e denunciada, mas mais ainda temos de mostrar à sociedade quem são seus verdadeiros semeadores.