14 de fevereiro de 2010

GRES S/A

GRES S/A.

Quem, como eu, não assiste um desfile de escola de samba pela televisão há algum tempo, pode achar que está em data errada. Explico. O desfile de “nossas” escolas de samba mais parece o desfile “cívico” de 7 de setembro, os “foliões” perfilados, obedecendo um script, se movimentando sincronizadamente, com tempo e espaço previamente definidos para os “passos” de antemão previstos.

Se antes o carnaval era um momento de diversão e extroversão, hoje obedece uma lógica de produção capitalista fordista. Todos arrumadinhos, obedecendo seus lugares na grande fábrica GRES. Assim como no nosso futebol, a tv estipula horários e dias de desfile para que sua grade ( esse termo nunca foi tão bem empregado ) não sofra alterações.

Ao ver esse espetáculo deprimente, eu me pergunto: Em que momento o folião se diverte, carregando quase sempre um peso tremendo, não podendo pular como quer, obedecendo a um diretor de ala estressado, cantando um samba em ritmo de corrida de 100 metros rasos?

Hoje em dia, mesmo com a massificação midiática, não nos lembramos do samba do ano passado, sendo mais fácil nos lembrarmos de um samba da década de 70 ou 80. Hoje o Carnaval, como todo produto capitalista, deve ser efêmero e descartado para nova compra no prazo mais curto possível.

A espontaneidade, antes marca registrada do nossa Festa Popular, dá lugar ao enredo encomendado e a sambas que mais parecem jingles de propaganda, enaltecendo supostas qualidades de um determinado produto.

Mas o cúmulo do absurdo foi ver a antiga tradicional Salgueiro pintar "foliões" de preto para representar os negros descritos em "Navio Negreiro" de Castro Alves. É o fim!

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